Sei que já está quase no final de Janeiro, mas mesmo assim, preciso escrever e fechar 2019, que começou assim.
Vista da casa dos meus pais, santa saudade depois de passar um tempo fora
Reflexões da viagem nômade
Viajar o mundo, trabalhando de qualquer lugar, 1 mês em cada país durante 1 ano, esses eram os planos. Muita gente sonha com tal oportunidade. Essas eram frases que eu costumava ouvir quando contava que iria ficar um ano fora, “Cara, esse é um dos meus grandes sonhos!”, “Se eu tivesse condições eu faria com certeza”.
Bom, este é um depoimento de um cara que pediu arrego na metade da viagem. Arrego mesmo, cheguei num ponto da viagem em que eu praticamente trabalhava o dia todo e no resto do dia, queria ficar em casa sem vontade de sair. Eu estava num quadro um pouco depressivo e queria voltar a rotina que tinha no Brasil.
Voltar para o Brasil com 6 meses de viagem foi a decisão na época ( mesmo com passagens compradas para Rússia e Tailândia ) , uma decisão bem acertada, pelo menos para mim, a Mel queria ter ficado.
Demorei o começo do ano ( alguns meses ) para entender direito o que aconteceu e me sentia bem culpado por não ter aproveitado tal oportunidade. Aquele sentimento de, “Po cara, como você não conseguiu curtir uma coisa tão legal!“. Mas digo que isso acontece, bom aconteceu comigo. Planos mudam e bola para frente.
Chegando ao final de 2020, consigo descrever nossa aventura em uma frase só:
A viagem foi incrível, e também não.
Eu, Mel, Croissant, fazendo o que mais gostamos de fazer, num dos países que mais amamos
Alguns aprendizados e minha situação psicológica atual ( falo assim, porque as coisas mudam…) :
- Família e amigos por perto ainda são mais importantes do que a tal liberdade de viajar pelo mundo. Gosto muito de viajar, mas acho que preciso sempre de um lugar ao qual eu possa “voltar”.
- Tenho mais certeza ainda de que minha felicidade está na minha rotina, no dia a dia. Claro que viajar é muito bom, mas trabalho e rotina deveriam ser tão bons quanto.
- O que parece ser bom para todo mundo as vezes pode não ser bom para você, e vice e versa. Por isso, descubra e veja as coisas por si próprio, e se possível sem aquele preconceito inicial que sempre temos.
Livros, autores e ideias
2018 foi o ano em que troquei o tempo que gastava com notícias pela leitura de livros. 30 minutos de leitura por dia e após 2 anos, foram mais de 120 livros nos mais diversos temas ( Medicina chinesa, Psicologia, Educação, Religião foram os principais).
Durante um tempo eu ficava pirando um pouco na ideia de que após a leitura de um livro, minha retenção de informações do mesmo era um pouco baixa, por isso comecei a fazer alguns resumos de livros que achava significante. Porém fazer tal tipo de atividade para uma pessoa que termina um livro por semana, se tornou algo impraticável.
Não se preocupe em ler livros e se lembrar deles detalhe por detalhe, os livros que ressoarem com você te transformarão sem você perceber
Hoje em dia eu troquei um pouco minha abordagem, não acho mais que para um livro ser bem aproveitado, devemos memorizar seu conteúdo e não esquecer. A memória é algo que tem um “lifespan” bem reduzido, me conformei com tal fato. Um bom livro, com ideias que você gostar , vai transformar seu consciente relacionado a memória mas também ele vai mexer com o seu inconsciente, e muitas vezes é ai que está o maior poder transformativo de um livro. Bom, isso parece uma boa desculpa para um cara que tem memória fraca, kkkk.
2019 foi o ano que estudando sobre religião, me aprofundei mais a respeito do Budismo, aprendi sobre o Zen e conheci um autor chamado Allan Watts, um filósofo ( bem charmoso por sinal ) que na década de 50 interpretou e tentou difundir a filosofia oriental para o ocidente.
“When children ask me those fundamental metaphysical questions which come so readily to their minds: “Where did the world come from?” “Why did God make the world?” “Where was I before I was born?” “Where do people go when they die?” Again and again I have found that they seem to be satisfied with a simple and very ancient story, which goes something like this:
There was never a time when the world began, because it goes round and round like a circle, and there is no place on a circle where it begins. Look at my watch, which tells the time; it goes round, and so the world repeats itself again and again. But just as the hour-hand of the watch goes up to twelve and down to six, so, too, there is day and night, waking and sleeping, living and dying, summer and winter. You can’t have any one of these without the other, because you wouldn’t be able to know what black is unless you had seen it side-by-side with white, or white unless side-by-side with black.
In the same way, there are times when the world is, and times when it isn’t, for if the world went on and on without rest for ever and ever, it would get horribly tired of itself. It comes and it goes. Now you see it; now you don’t. So because it doesn’t get tired of itself, it always comes back again after it disappears. It’s like your breath: it goes in and out, in and out, and if you try to hold it in all the time you feel terrible. It’s also like the game of hide-and-seek, because it’s always fun to find new ways of hiding, and to seek for someone who doesn’t always hide in the same place.
God also likes to play hide-and-seek, but because there is nothing outside God, he has no one but himself to play with. But he gets over this difficulty by pretending that he is not himself. This is his way of hiding from himself. He pretends that he is you and I and all the people in the world, all the animals, all the plants, all the rocks, and all the stars. In this way he has strange and wonderful adventures, some of which are terrible and frightening. But these are just like bad dreams, for when he wakes up they will disappear.
Now when God plays hide and pretends that he is you and I, he does it so well that it takes him a long time to remember where and how he hid himself. But that’s the whole fun of it—just what he wanted to do.
He doesn’t want to find himself too quickly, for that would spoil the game. That is why it is so difficult for you and me to find out that we are God in disguise, pretending not to be himself. But when the game has gone on long enough, all of us will wake up, stop pretending, and remember that we are all one single Self—the God who is all that there is and who lives for ever and ever.
Of course, you must remember that God isn’t shaped like a person. People have skins and there is always something outside our skins. If there weren’t, we wouldn’t know the difference between what is inside and outside our bodies. But God has no skin and no shape because there isn’t any outside to him.
The inside and the outside of God are the same. And though I have been talking about God as ‘he’ and not ‘she,’ God isn’t a man or a woman. I didn’t say ‘it’ because we usually say ‘it’ for things that aren’t alive. “God is the Self of the world, but you can’t see God for the same reason that, without a mirror, you can’t see your own eyes, and you certainly can’t bite your own teeth or look inside your head. Your self is that cleverly hidden because it is God hiding.
You may ask why God sometimes hides in the form of horrible people, or pretends to be people who suffer great disease and pain. Remember, first, that he isn’t really doing this to anyone but himself. Remember, too, that in almost all the stories you enjoy there have to be bad people as well as good people, for the thrill of the tale is to find out how the good people will get the better of the bad. It’s the same as when we play cards. At the beginning of the game we shuffle them all into a mess, which is like the bad things in the world, but the point of the game is to put the mess into good order, and the one who does it best is the winner. Then we shuffle the cards once more and play again, and so it goes with the world.”
Esse é um texto simples, e explora algumas ideias principais:
- No fundo, nós todos somos parte de uma coisa só. Nós não somente fazemos parte do universo, nós somos o universo. Quando você começa a se colocar como uma pessoa conectada com o resto, você “quebra” a ilusão se ser uma coisa separada do todo.
“We do not “come into” this world; we come out of it, as leaves from a tree. As the ocean “waves,” the universe “peoples.” Every individual is an expression of the whole realm of nature, a unique action of the total universe.” - Allan Watts
- É preciso do branco para que exista o preto. É preciso que exista o vazio para que exista a matéria. É preciso que exista o mal para existir o bem.
- O Deus no caso que ele cita, é um cara brincalhão. As coisas simplesmente acontecem, e muitas vezes é difícil distinguir entre as boas e ruim que acontecem com você.
A parábola do chinês
De maneira bem simplista, posso dizer que as 3 ideias principais, são conceitos bem presentes no Zen. Se você se quiser entender um pouco mais como o mundo oriental funciona, esse cara é uma bela porta de entrada.
Este vídeo é uma boa síntese das ideias dele
Alguns bons livros de 2019
O Manual do Heroi - Sonia Hirsch
Atomic Habits - James Clear
The first and last freedom - Jiddu Krishnamurti
The Book: On the taboo against knowing who you are - Alan Watts
The way of zen - Alan Watts
This explains everything - John Brockman
Destructive Emotions - Daniel Goleman, Dalai Lama
How Emotions are made - Lisa Feldman Barret
Trabalho e projetos pessoais
Neste tópico acho que nada de muito de novo aconteceu. Continuei o ano tocando os mesmos projetos que estava tocando em 2018 e fiz algumas experiências trabalhando em 3 projetos bem diferentes.
- Lemlist - Ferramenta de email marketing de um grupo de franceses bem gente boa
- Fun with balls - Squash interativo
- Just my Order - Solução de cardápio digital para restaurantes e casas de eventos
Assim já completo 3 anos trabalhando como freelancer de projetos de software. 2019 foi um ano que juntei uma boa quantidade de ideias para que em 2020 seja o ano que eu coloque ao menos uma delas em prática.
2020 algo vai sair do papel.
Cerâmica
Assisti este vídeo em 2018 e ele foi um dos motivoasd de eu ter começar a fazer cerâmica, além do exemplo da minha sogra que já fazia alguns utilitários bem da hora. Esse Ryoya Takashima tem um canal culinário bem interessante e bonito e tcharam, além de saber cozinhar bem, o cara também faz os próprios pratos e utilitários de cozinha. Assim pensei, hum, eu gosto também de cozinhar, porque não também tentar fazer uns pratos para casa?
Como fazer um prato
Em 2019 a Mel (minha esposa) estava fazendo alguns cursos de culinária ( provavelmente algum dia iremos abrir algum tipo de restaurante ) e eu comecei a brincar que eu seria responsável por fazer toda a louça do estabelecimento. Dito e feito, em Junho, comecei a frequentar o ateliê Terra Bella e meu novo hobby se tornou praticamente um vício.
Após 6 meses de muitos copos, pratos, potes produzidos, fico pensando no porque me sinto tão imerso nesse novo aprendizado.
Acho que há algo muito valoroso quando você participa do processo completo de produção de algo físico, no meu caso, a cerâmica. Acho muito gostoso o senso de realização quando levo para casa algumas peças que acabaram de ser queimadas no forno. Fazer algo com as próprias mãos foi uma das coisas que meu pai sempre tentou me mostrar quando me levava para realizar umas coisas estranhas por ai, tipo, fazer rebite de porta, instalar umas luminárias e trabalhar da construção de uns chalés no sítio de Juquitiba.
A cerâmica também me faz conectar mais a fundo com a cultura de meus ancestrais ( japoneses ), que há pouco tempo atrás ( vai, uns 200 anos ) era uma população composta praticamente por diversos tipos de artesãos, que utilizavam recursos naturais para produzir todo tipo de utilitário necessário naquela época. Uma cultura onde a disciplina e a repetição são aspectos bastante valorizados.
Na produção de peças de cerâmica, não existem atalhos. Cada parte do processo deve ser respeitado e feito da maneira correta. O legal é que na maioria das vezes, ao final do processo, da para ver qual parte do processo foi feito nas coxas.
Torneamento (modelagem da peça) → Secagem da argila → Primeira queima (Biscoito) → Esmaltação → Segunda queima (alta temperatura)
É bizarro pensar que a cerâmica me ajudou a ser um melhor programador, me ensinou a respeitar mais algumas partes do processo.
Ps: Tewasa - Esse é um canal de vídeo do Youtube que mostra a infindade de tipos de artesanato do povo Japonês.
Kobe
Domingo dia 22 de Setembro de 2019, 3h da tarde, eu estava dormindo e já estava considerando o dia perdido. A Mel me acorda e fala, “Yuki, vamos para o Embu tentar achar um cachorro?“. Eu meio ainda atordoado, só concordo e vamos rumo ao Embu. No final das contas, voltamos para casa 2 horas depois com o Kobe, meu primeiro cachorro da vida.
Zoro e Kobe, cachorros diferentes, mesma forma de dormir
Das milhares de coisas que um cachorro pode te ensinar vou citar apenas três:
- O uso da força ou violência pode funcionar no início como fator educativo, porém o controle pelo uso da força acaba com a espontaneidade do animal. Admito que com o Zoro (nosso primeiro cachorro) eu utilizei diversas vezes a violência para adverti-lo de certos comportamentos (tipo cagar na varanda inteira, arrancar uma tomada da parede), e ele foi aprendendo a não fazer. O problema é que com o tempo ele foi perdendo um pouco da energia que tinha e quando eu levantava um pouco a voz com ele, acabava surgindo uma poça de xixi no chão. Com o Kobe, tivemos um abordagem um pouco diferente onde não batemos mais no cachorro, e o resultado foi bem visível. Pessoas também reagem assim também ao demasiado uso da força. Educação muito na força acaba por gerar
- Cachorros não precisam de nada mais além da sua companhia para ficarem bem. O mesmo, imagino que possa ser aplicado também a sua família e amigos de verdade.
- Não temos língua em comum com os cachorros, mas somente pelo olhar, ele entende muito bem como você está se sentindo. Nunca fui uma pessoa muito boa em detectar o “mood” da outra pessoa, desenvolvi um pouco melhor esta habilidade este ano. Isso me ajudou bastante a ser um melhor companheiro e amigo.
Vou ser Pai
A Mel está grávida desde Outubro, descobrimos a gravidez em Dezembro.
Se acho que estou preparado? Acho que sim!
Mas antes da criança nascer e ficar pensando em como ela será, como você vai educar, como você vai vê-la crescer, temos um trabalho a ser feito como casal. A gravidez é um processo que não é muito longo mas também não muito curto. Demora tempo o suficiente para provocar diversas mudanças e adaptações na rotina de um casal.
Interessante como os ítens abaixo aconteceram para nós de maneira bastante orgânica:
- O nível de tolerância aumentou. Acho que estamos sendo mais “doces” na comunicação e interação um com o outro.
- Melhoramos mais ainda a alimentação, introduzimos o hábito de comer frutas diversas todos os dias. Já tinhamos ano passado reduzido muito o uso de produtos industrializados em casa.
Para 2020
Alguns objetivos:
Lançar um produto / SaaS / projeto pessoal
Depois de 3 anos trabalhando e ganhando experiência em projetos de terceiros, está na hora de alçar vôo. O que acho que está diferente para este ano?
- Hábitos e disciplina - investir em um projeto pessoal é um plano de longo termo e exige disciplina e muita vontade. Ainda mais quando você ainda tem um trabalho do dia a dia para tocar.
- Experiências em diversos tipos de projeto - vivência na prática é uma coisa muito poderosa. Nesses 2 últimos anos trabalhei em 2 produtos (Upleap e Lemlist) onde eu conseguia imaginar como construir ambos produtos do zero. Ter consciência disso me dá mais confiança na hora de construir o meu. Ao menos a parte técnica não deveria mais ser um grande problema.
- Boas ideias - o Crossfit, a Cerâmica, o Kobe, a Mel e os diversos livros que li, serviram de inspiração para gerar boas ideias. Ah, boas ideias ao menos na minha opinião.
Escrever mais e melhor
Escrever é uma habilidade que sempre quis adquirir, é uma ação produtiva que me ajuda a pensar de maneira mais clara. Praticamente uma outra forma de meditação. Este ano quero escrever ao menos 2 textos novos todo mês.
Cerâmica
Existe um universo gigantesco nesse tipo de arte. Minha proposta para 2020:
- Aprimorar a técnica, principalmente na obtenção de formas
- Começar a criar um senso de estilo baseado em alguns artistas que considero referência
- Presentear parentes e amigos
Família, amizades, filho e espírito
Tenho tempo para os ítens acima, agora quero aumentar também a qualidade